O século XX foi um século de muitas atrocidades
com foco na vida humana. Aqui trata-se do recorte sobre a vida humana no
contexto das pesquisas científicas que trouxeram grandes avanços. Porém, numa
fase de boom inicial não tinham estabelecidos os regulamentos que garantissem o
respeito à dignidade do ser humano. Tanto no contexto da Segunda Guerra Mundial
como em pesquisas em geral que envolveram seres humanos, aconteceram situações
que envergonham a humanidade.
Os julgamentos dos crimes de guerra, em Nürnberg,
Alemanha, lançaram uma nova luz sobre os problemas relacionados às pesquisas
científicas envolvendo seres humanos. Dos condenados, muitos eram da área de
medicina em decorrência das atrocidades praticadas nas pesquisas com seres
humanos vulneráveis dos campos de concentração. As três linhas principais se
concentravam em testes de resistência, de controle de doenças contagiosas e dos
gases de destruição. O legado foi o Código de Nürnberg, que traçou as
linhas-mestras da ética em pesquisa com seres humanos. Desde então, a condição
para a pesquisa é o respeito pela dignidade e autonomia do participante, da
comprovação de relevância para toda a sociedade e da exigência de habilitação
técnica e científica do pesquisador, entre outros. Entrou em cena a exigência
do consentimento livre e esclarecido, entre outras garantias de pesquisa humanizada.
Em nível internacional alguns documentos
importantes consolidam a preocupação da comunidade internacional em relação às
pesquisas com seres humanos como: Declaração Universal do Genoma Humano e os
Direitos Humanos (Unesco, 1997), Declaração sobre os Dados Genéticos Humanos
(Unesco, 2004) e a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos
(Unesco, 2005).
No Brasil foi criada relevante instância
consultiva, deliberativa, normativa e educativa, que é a Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa (CONEP), criada pela Resolução 196/96, ampliada e atualizada
pela Resolução 466/2012. Além disso, em cada instituição de pesquisa deve ser
formado um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), com a participação de uma equipe
multidisciplinar, incluindo representante dos usuários; Além disso, foi criada
a Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), com a função de ampliar o debate dos
assuntos de bioética e produzir suporte teórico diante de decisões relevantes
sobre a vida humana e todas as formas de vida no planeta bem como planeta em si
mesmo.
Para dar conta da ampla demanda das questões
relativas às pesquisas com seres humanos e outras tantas que requerem um debate
bioético amplo e bem fundamentado sob os aspectos técnicos e humanitários,
multiplicaram-se os grupos de debates, estudos e de consultoria de bioética.
Como o campo da bioética é um espaço relevante para a defesa da vida, a Igreja
Católica, ela se engaja de modo particular pelo debate bioético. Em nível
global, a Igreja tem representação significativa no âmbito da bioética. Entre
outros, destacam-se Edmund Pellegrino (1920 - 2013), e o Cardeal Elio Sgreccia
(1928), que desenvolveu a abordagem personalista. No Brasil, a Igreja, através
da CNBB, promove e apoia iniciativas no sentido de formar comitês de bioética
que possam dar consultoria às autoridades da Igreja e apoio aos seus fiéis. “Cabe
a esses profissionais oferecer seus conhecimentos, à luz da ciência e da fé e
iluminados pelo Magistério da Igreja, tendo como missão de apoiar o episcopado
brasileiro no serviço evangelizador do Povo de Deus, acerca do valor e da
dignidade da vida humana e para a construção da cultura da vida.” (Soares,
Ramos, Moser, 2010, p. 118). Não basta, porém, criar um ambiente próprio para a
reflexão bioética, isto porque ela exige, por sua natureza, um amplo diálogo
com as demais ciências humanas e a diversas mentalidades que constituem a
sociedade. “Em cada
diocese encontram-se universidades, escolas, hospitais e órgãos governamentais
ligados à saúde pública. Nestes contextos, uma Comissão Diocesana de Bioética
poderá não só representar a voz da Igreja, mas testemunhar a relação entre fé e
razão, além de exortar sobre o compromisso moral e social que devem ter os
cientistas e profissionais de saúde.” (Soares, Ramos, Moser, 2010, p. 118).
A interpelação para cada cidadão, para cada cristão, é
sobre seu engajamento pela vida em instâncias que garantam o respeito à
dignidade humana. Não basta o escândalo, é preciso agir para evitar outros!
Referências
SOARES, André Marcelo; RAMOS, Dalton Luiz de
Paula; MOSER, Antônio. Comissões Diocesanas de Bioética: Uma sugestão. In:
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Questões de Bioética. São Paulo:
Paulus, 2010. p. 113-127. Estudos da CNBB - 98.
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