3 de ago. de 2017

Questões de bioética: os cinco estágios da morte - Elisabeth Kübler-Ross


Grande referência no estudo da morte (tanatologia) é, sem dúvida, Elisabeth Kübler-Ross. Kübler-Ross nasceu na Suíça, mas viveu nos EUA, onde acompanhou milhares de pessoas no estágio final da vida. É defensora dos cuidados paliativos por entender a urgente necessidade de humanização e cuidado a fim de que as pessoas possam viver com sentido de vida até o fim da vida. A projeção internacional do seu trabalho se deu ao publicar, em 1969, o livro Sobre a morte e o morrer [On death and dying]. Ela diz:

“Quanto mais avançamos na ciência, mais parece que tememos e negamos a realidade da morte. Como é possível? Recorremos aos eufemismos; fazemos com que o morto pareça adormecido; mandamos que as crianças saiam, para protegê-las da ansiedade e do túmulo reinantes na casa, isto quando o paciente tem a felicidade de morrer em seu lar; impedimos que as crianças visitem seus pais que se encontram à beira da morte nos hospitais; sustentamos discussões longas e controvertidas sobre dizer ou não a verdade ao paciente, dúvida que raramente surge quando é atendido pelo médico da família que o acompanhou desde o parto até a morte e que está a par das fraquezas e forças de cada membro da família.” (Kübler-Ross, 1996, p. 19).

 Ao contrário de tantas outras coisas, a morte é a coisa mais certa da vida. Embora, trabalhe a questão de forma ampla, ela dá um sentido à vida a partir da esperança da não finitude absoluta: “Morrer é como mudar-se de uma casa para outra mais bonita.” (Kübler-Ross, 2007, p. 11). Ela trata, portanto, a questão como um novo nascimento, o que abre uma perspectiva nova. “A experiência da morte é quase idêntica à do nascimento. É como nascer para uma vida diferente, que pode ser vivida com muita simplicidade. Por milhares de anos você foi levado a “acreditar” nas coisas do além. Mas, para mim já não se trata de acreditar, mas de saber.” (Kübler-Ross, 2007, p. 10). As suas observações e pesquisas identificaram uma percepção semelhante no final da vida, porém, com elementos próprios das crenças individuais.
Kübler-Ross é conhecida por defender cinco estágios que a pessoa passa no final da vida, evidentemente se fala de uma possibilidade de consciência da situação. Defendemos os estágios, porém, a sequência é um caminho muito particular, podendo ter idas e vindas, o que é bom observar quando se trata de acompanhar alguém neste estágio.
Os cinco estágios foram desenvolvidos por Kübler-Ross, no livro Sobre a morte e o morrer - do cap. III ao cap. VII.

1.      A negação:

    “Não, eu não, não pode ser verdade!” (Kübler-Ross, 1996, p. 51). A primeira reação é a da não aceitação. Eu tinha tanto ainda para viver.... É preciso algum tempo para assimilar a informação sobre o real estado de saúde, portanto, mais do que conselhos, a pessoa precisa ser ouvida, acolhida e compreendida.

2.      A raiva 

    “Não, não é verdade, isso não pode acontecer comigo!” (Kübler-Ross, 1996, p. 63). A raiva já indica um estágio de compreensão da própria condição. Ela vem muitas vezes acompanhada com a alteração da rotina, da interrupção de atividades, o que muda substancialmente o modo de viver e acentua a percepção do fim iminente. 

3.      A barganha

 “Se Deus decidiu levar-me deste mundo e não atendeu meus apelos cheios de ira, talvez seja mais condescendente se eu apelar com calma.” (Kübler Ross, 1996, p. 95).  Já tenho experimentado profundamente a incapacidade do domínio sobre a própria vida, já tendo buscado uma força transcendente, a barganha significa uma última opção para que efetivamente algo desejado – a libertação da morte naquele momento – aconteça efetivamente. A barganha inclui moeda de troca. Neste estágio há muitas promessas, por vezes secretas. Já o comportamento agressivo do estágio anterior tende a desaparecer e, no lugar dele, a pessoa se torna mais calma e reflexiva.

4.      A depressão

A própria debilidade física e psíquica da pessoa vai indicando o fim próximo. Além disso, o ambiente externo vai dando sinais de que algo está diferente. Particularmente neste estágio, a pessoa acaba recebendo visitas que, antes, eram raras ou mesmo ausentes. Mesmo na falta de uma boa comunicação entre equipe médica e familiares ou cuidadores legalmente constituídos, o ambiente comunica algo. É um estágio particularmente difícil se a pessoa não está devidamente informada e ao mesmo tempo ela vai captando “no ar” algo de estranho sobre sua pessoa.

5.      A aceitação

É o último estágio, portanto, de plena consciência de que está acontecendo. Neste estágio, a pessoa aceita sua condição e é extremamente relevante que se criem possibilidades de, segundo suas condições, poder permanecer integrada nos seus ambientes, que realize seus desejos. De modo especial, deve-se cuidar e entender, talvez só nas entrelinhas, suas últimas necessidades: de resolver coisas pendentes. Estas podem ser de ordem econômica, relacional, espiritual. É neste estágio que surge a vontade de ver alguma pessoa distante de pedir ou ter o perdão de algum familiar. Pais jovens, por vezes, precisam saber sobre o cuidado de seus filhos. É um estágio importante também para o cuidado espiritual, segundo a crença de cada um.  

Compreender as cinco fases observadas por Kübler-Ross ajuda a ajudar de forma mais acertada nestas fases distintas, embora não se possa defendê-las como uniformidade e, sim, nas suas manifestações sempre individualizadas. Elas podem não ter uma sequência tão distinta, mas condições pessoais podem permitir que algum estágio vencido volte a se manifestar. Um exemplo concreto, são situações como a informação sobre tratamentos disponíveis em algum lugar antes não conhecido, algumas pessoas que convencem e reanimam a partir de alguma promessa na linha da fé... A própria personalidade da pessoa torna este caminho bem particular e sempre novo de modo que não se pode prescrevê-lo ou segui-lo a partir de descrições anteriores.

Bibliografia

KÜBLER-ROSS, Elisabeth. A morte: um amanhecer. 6. ed. São Paulo: Pensamento, 2007.
______ Sobre a Morte e o Morrer. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Tradução: Paulo Menezes.


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