Grande referência no estudo
da morte (tanatologia) é, sem dúvida, Elisabeth Kübler-Ross. Kübler-Ross nasceu
na Suíça, mas viveu nos EUA, onde acompanhou milhares de pessoas no estágio
final da vida. É defensora dos cuidados paliativos por entender a urgente
necessidade de humanização e cuidado a fim de que as pessoas possam viver com
sentido de vida até o fim da vida. A projeção internacional do seu trabalho se
deu ao publicar, em 1969, o livro Sobre a
morte e o morrer [On death and dying]. Ela diz:
“Quanto
mais avançamos na ciência, mais parece que tememos e negamos a realidade da
morte. Como é possível? Recorremos aos eufemismos; fazemos com que o morto
pareça adormecido; mandamos que as crianças saiam, para protegê-las da ansiedade
e do túmulo reinantes na casa, isto quando o paciente tem a felicidade de
morrer em seu lar; impedimos que as crianças visitem seus pais que se encontram
à beira da morte nos hospitais; sustentamos discussões longas e controvertidas
sobre dizer ou não a verdade ao paciente, dúvida que raramente surge quando é
atendido pelo médico da família que o acompanhou desde o parto até a morte e
que está a par das fraquezas e forças de cada membro da família.” (Kübler-Ross,
1996, p. 19).
Ao contrário de tantas outras coisas, a morte
é a coisa mais certa da vida. Embora, trabalhe a questão de forma ampla, ela dá
um sentido à vida a partir da esperança da não finitude absoluta: “Morrer é
como mudar-se de uma casa para outra mais bonita.” (Kübler-Ross, 2007, p. 11). Ela
trata, portanto, a questão como um novo nascimento, o que abre uma perspectiva
nova. “A
experiência da morte é quase idêntica à do nascimento. É como nascer para uma
vida diferente, que pode ser vivida com muita simplicidade. Por milhares de
anos você foi levado a “acreditar” nas coisas do além. Mas, para mim já não se
trata de acreditar, mas de saber.” (Kübler-Ross, 2007, p. 10). As suas observações e pesquisas identificaram uma percepção
semelhante no final da vida, porém, com elementos próprios das crenças
individuais.
Kübler-Ross
é conhecida por defender cinco estágios que a pessoa passa no final da vida,
evidentemente se fala de uma possibilidade de consciência da situação.
Defendemos os estágios, porém, a sequência é um caminho muito particular,
podendo ter idas e vindas, o que é bom observar quando se trata de acompanhar
alguém neste estágio.
Os cinco estágios foram
desenvolvidos por Kübler-Ross, no livro Sobre
a morte e o morrer - do cap. III ao cap. VII.
1. A negação:
“Não, eu não, não pode ser verdade!” (Kübler-Ross, 1996, p. 51). A primeira reação é a da não aceitação. Eu tinha tanto ainda para viver.... É preciso algum tempo para assimilar a informação sobre o real estado de saúde, portanto, mais do que conselhos, a pessoa precisa ser ouvida, acolhida e compreendida.
“Não, eu não, não pode ser verdade!” (Kübler-Ross, 1996, p. 51). A primeira reação é a da não aceitação. Eu tinha tanto ainda para viver.... É preciso algum tempo para assimilar a informação sobre o real estado de saúde, portanto, mais do que conselhos, a pessoa precisa ser ouvida, acolhida e compreendida.
2.
A
raiva
“Não, não é verdade, isso não pode acontecer comigo!” (Kübler-Ross, 1996, p. 63). A raiva já indica um estágio de compreensão da própria condição. Ela vem muitas vezes acompanhada com a alteração da rotina, da interrupção de atividades, o que muda substancialmente o modo de viver e acentua a percepção do fim iminente.
“Não, não é verdade, isso não pode acontecer comigo!” (Kübler-Ross, 1996, p. 63). A raiva já indica um estágio de compreensão da própria condição. Ela vem muitas vezes acompanhada com a alteração da rotina, da interrupção de atividades, o que muda substancialmente o modo de viver e acentua a percepção do fim iminente.
3. A barganha
“Se Deus decidiu levar-me deste mundo e não atendeu meus apelos cheios
de ira, talvez seja mais condescendente se eu apelar com calma.” (Kübler Ross,
1996, p. 95). Já tenho experimentado
profundamente a incapacidade do domínio sobre a própria vida, já tendo buscado
uma força transcendente, a barganha significa uma última opção para que efetivamente
algo desejado – a libertação da morte naquele momento – aconteça efetivamente.
A barganha inclui moeda de troca. Neste estágio há muitas promessas, por vezes
secretas. Já o comportamento agressivo do estágio anterior tende a desaparecer
e, no lugar dele, a pessoa se torna mais calma e reflexiva.
4.
A
depressão
A própria debilidade física
e psíquica da pessoa vai indicando o fim próximo. Além disso, o ambiente
externo vai dando sinais de que algo está diferente. Particularmente neste
estágio, a pessoa acaba recebendo visitas que, antes, eram raras ou mesmo
ausentes. Mesmo na falta de uma boa comunicação entre equipe médica e
familiares ou cuidadores legalmente constituídos, o ambiente comunica algo. É um
estágio particularmente difícil se a pessoa não está devidamente informada e ao
mesmo tempo ela vai captando “no ar” algo de estranho sobre sua pessoa.
5.
A
aceitação
É o último estágio,
portanto, de plena consciência de que está acontecendo. Neste estágio, a pessoa
aceita sua condição e é extremamente relevante que se criem possibilidades de,
segundo suas condições, poder permanecer integrada nos seus ambientes, que
realize seus desejos. De modo especial, deve-se cuidar e entender, talvez só
nas entrelinhas, suas últimas necessidades: de resolver coisas pendentes. Estas
podem ser de ordem econômica, relacional, espiritual. É neste estágio que surge
a vontade de ver alguma pessoa distante de pedir ou ter o perdão de algum
familiar. Pais jovens, por vezes, precisam saber sobre o cuidado de seus
filhos. É um estágio importante também para o cuidado espiritual, segundo a
crença de cada um.
Compreender as cinco fases
observadas por Kübler-Ross ajuda a ajudar de forma mais acertada nestas fases
distintas, embora não se possa defendê-las como uniformidade e, sim, nas suas
manifestações sempre individualizadas. Elas podem não ter uma sequência tão
distinta, mas condições pessoais podem permitir que algum estágio vencido volte
a se manifestar. Um exemplo concreto, são situações como a informação sobre
tratamentos disponíveis em algum lugar antes não conhecido, algumas pessoas que
convencem e reanimam a partir de alguma promessa na linha da fé... A própria personalidade
da pessoa torna este caminho bem particular e sempre novo de modo que não se
pode prescrevê-lo ou segui-lo a partir de descrições anteriores.
Bibliografia
KÜBLER-ROSS, Elisabeth. A morte: um amanhecer. 6. ed. São
Paulo: Pensamento, 2007.
______ Sobre
a Morte e o Morrer. 7.
ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Tradução: Paulo Menezes.
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