"Embora certos condicionalismos psicológicos, culturais e sociais possam levar a realizar um gesto que tão radicalmente contradiz a inclinação natural de cada um à vida, atenuando ou anulando a responsabilidade subjetiva, o suicídio, sob o perfil objetivo, é um ato gravemente imoral, porque comporta a recusa do amor por si mesmo e a renúncia aos deveres de justiça e caridade para com o próximo, com as várias comunidades de que se faz parte, e com a sociedade no seu conjunto" (João Paulo II, Evangelium Vitae, n. 66).
Um dia encontrei uma mãe desesperada num corredor de hospital. Ela havia "brigado" com a sua filha, 14 anos, e esta saiu alterada de casa e, ao atravessar a rua, foi atropelada. Infelizmente o caso foi fatal. A mãe começou a cogitar suicídio e se culpava por isso. Outro motivo, a família era cristã, para tal desespero era que a filha poderia não alcançar a salvação.
Era, supostamente, mais um dos milhares de caso de suicídio. No entanto, mesmo que haja algum sinal de que pode ser suicídio, neste caso, pode ter sido um acidente. Para que se possa classificar como suicídio, é preciso que se tenham elementos claros o suficiente para tal. Também não é direito de ninguém julgar um suicida. Objetivamente é um atentado contra a vida, mas há muitas condições que diminuem ou até mesmo suprimem a responsabilidade.
Hoje, o suicídio não pode mais ser visto como uma exceção... A frequência com que as pessoas tiram sua própria vida já se tornou uma questão de saúde pública. As causas são diversas e muitas vezes tão sutis que somente depois do fato consumado se começam a identificar os indícios do que poderia vir a acontecer. Precisamos olhar com mais carinho para as possíveis condições e causas: estar atentos às questões de saúde mental, educar as crianças desde a mais tenra idade para o fortalecimento pessoal diante das adversidades da vida, valorizar a vida através de uma contínua reflexão e educação para o sentido da vida ancorado em valores maiores.
O excesso de ofertas que promovem bem-estar e prazer produz um vazio existencial, caso o sentido da vida se reduza ao desfrute dos benefícios imediatos de bens temporais. É preciso projetar uma luz para além daquilo que hoje nos satisfaz e amanhã fenece. O sentido último da vida precisa sustentar-se num bem maior e duradouro. Nem mesmo as pessoas que estão ao nosso lado podem ser tidas como este bem último, também elas são frágeis e hoje podem te dar suporte e amanhã podem não mais estar entre nós.
Não importa qual é o nosso valor maior, qual é a nossa fé, mas é relevante que tenhamos referência em uma força superior.
Para os cristãos, toda a força e sentido de vida é iluminado pela fé na ressurreição em Cristo. O que é passageiro tem seu valor passageiro. Nem tudo o que é passageiro é insignificante, mas tem seu valor delimitado no tempo e no espaço. A fé na ressurreição em Cristo, no entanto, dá um sentido a partir de um horizonte seguro.
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