12 de nov. de 2017

A juventude: dom e riqueza na dinâmica de vida eclesial.

"A pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a desenvolvê-la, sofreu o impacto das mudanças sociais. Nas estruturas ordinárias, os jovens habitualmente não encontram respostas para as suas preocupações, necessidades, problemas e feridas. A nós, adultos, custa-nos ouvi-los com paciência, compreender as suas preocupações ou as suas reivindicações, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles entendem. Pela mesma razão, as propostas educacionais não produzem os frutos esperados. A proliferação e o crescimento de associações e movimentos predominantemente juvenis podem ser interpretados como uma ação do Espírito que abre caminhos novos em sintonia com as suas expectativas e a busca de espiritualidade profunda e de um sentido mais concreto de pertença. Todavia é necessário tornar mais estável a participação destas agregações no âmbito da pastoral de conjunto da Igreja" (Papa Francisco, Evangelii Gaudium n. 105).

Sempre que a gente pensa que no "nosso tempo" as coisas eram melhores, o que se revela é que a mente está ficando velha. Envelhecer fisicamente e acumular experiências não torna necessariamente a nossa mente velha. O que nos torna velhos - e também repugnantes - é a nossa convicção de que somos de uma geração superior, ou ao menos melhor, do que aquela que nos sucede. 
A juventude hoje nasceu e cresceu numa sociedade com diversidade religiosa e cultural, mas os seus orientadores ainda não. Por isso, é comum ver comentários e análises que contrapõem a juventude segundo suas aspirações. Ainda não se aprendeu a olhar no espelho e questionar a si próprio o que é preciso mudar para falar e lidar com a juventude. 
Se a "proliferação e o crescimento de associações e movimentos juvenis" assustam por não ter a esperada "linguagem profética", então a autoanálise é precária, senão ausente, porque este movimento da Igreja é em si mesmo profético, embora sempre é preciso estar aberto a ajustes para servir ao Reino. Ele preenche uma importante lacuna, particularmente aquela de reconhecer que a juventude não pode ser enquadrada, segundo ideologias de seus dirigentes, em uma única forma de expressão como se os jovens fossem uma massa fácil de instrumentalização para fins que não lhes interessam. Talvez a juventude que queiramos não exista mais, e a que existe, não somos capacitados para entendê-la, muito menos, para lhe indicar rumos seguros. 
A juventude, como outrora, continua com grandes ideais, porém, muitas vezes sufocados pela falta de líderes coerentes, que vale a pena seguir. A juventude faz experiências de vida em situações muito diversas da de seus líderes. O mundo anda a galope, muitas vezes sem rumo e esvaziado de valores humanos e duradouros. A constante apelação para satisfações e prazeres imediatos atraem tanto jovens como adultos. É desafiante resistir em função de valores maiores, pouco atraentes, porém que implicam num projeto de vida e não apenas em momentos de euforia. 
Mais lenta que outras instituições sociais, as tradicionais estruturas da Igreja carecem de um novo modo de organização e motivação. Antes de ficar nos púlpitos condenando as novas formas de organização comunitária, nomeadamente as juvenis, é preciso uma autêntica autoanálise e entender que não estamos mais em tempos de criar um grupo à volta do nosso umbigo, que nos prestigia e fala bem articuladamente a "voz profética" ao fazer as mais diversas denúncias sociais (sendo que na imersão na vida pública não se percebe tal impacto, porque denunciar é mais fácil do que fazer). Estamos em tempos de dar um salto e abrir-nos para outras formas de ser Igreja. Somente esta abertura pode aproximar os diferentes grupos e, juntos, poderão enriquecer-se, avaliar-se e renovar a Igreja, particularmente no campo juvenil, para ser sal, fermento e luz no mundo.

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