Foi mais um dia comum, um dia daqueles que a gente se reunia em grande roda para refletir sobre o sentido e valor da vida. Um projeto de Pastoral da Saúde. Participa quem quer! O que unia a todos era a vontade de retomar a vida profundamente afetada pela dependência química. Cada um com sua história, com seus desejos e fracassos. Foi então que observei que João Pedro (nome fictício) rasurava alguma coisa num papel que havia recolhido do lixo. Sua aparência física denunciava que alguma coisa não estava bem: magro, pálido... Primeiro tive a tentação de lembrar que a participação era livre, mas não o fiz, pois todos estavam avisados que era um momento de espiritualidade como oferta e não como compromisso do tratamento. Após uma hora de reflexão e debate, fui me retirando... e, quando já saia pela portaria, João Pedro veio e me entregou um bilhete. Sim, aquele papel retirado do lixo e aquilo que parecia alguns rabiscos para ocupar o tempo, tinha uma mensagem. O teor dava conta de alguém agradecido por aquele momento e que estava ciente de sua situação terminal por causa do vício e doenças associadas. Enfim, disse que aquele momento de reflexão seria talvez a última "mensagem boa" da sua vida. Bem, não tive como duvidar, não pela eloquência das falas, mas pelo estado do jovem... Pensei muito sobre a responsabilidade que implica um projeto humanitário e de espiritualidade. Quantas histórias tão densas de dor, de angústia, de expectativa podem fazer parte do nosso círculo tão próximo! Que o Espírito Santo ilumine cada palavra, cada gesto nosso para que possamos ser uma pequena luz na escuridão de tantos caminhos de vida!!!
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