10 de abr. de 2017

Reunião de dirigentes das Associações Laicais Movimentos e Serviços Eclesiais 17 a 19 de março de 2017 Centro de Formação Mariápolis Ginetta - Vargem Grande Paulista, SP

Diversos movimentos eclesiais e associações atenderam ao convite para mais uma reunião (9ª) convocada pela comissão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para o Laicato e Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB). Os assessores foram a professora Lúcia Pedrosa, PUC-Rio, prof. Francisco Catão. D. Remídio Bohn, bispo de Cachoeira do Sul, RS, um dos assessores da comissão da CNBB para o Laicato também se fez presente e deixou sua mensagem por ocasião das celebrações eucarísticas e outros momentos específicos. O objetivo proposto para o evento foi: “aprofundar a comunhão entre os carismas, em vista de uma eficaz e provocadora revitalização das associações laicais, dos movimentos e serviços eclesiais na Igreja e na Sociedade”. Na reunião foram apresentados e debatidos dois relevantes documentos relativos à missão dos leigos: 1. Documento 105 da CNBB: “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade – Sal da Terra e Luz do mundo (aprovado na Assembleia Geral de Aparecida, em abril de 2016). 2. Carta Iuvenescit Ecclesia (a Igreja rejuvenesce), sobe a relação entre os dons hierárquicos e carismáticos (promulgado pela Congregação da Doutrina da Fé na Solenidade de Pentecostes em 2016). Na primeira apresentação, a Prof.ª Lúcia Pedrosa, mostrou a estrutura do documento, dividido em três grandes temas: a. O mundo atual – esperanças e angústias; b. O sujeito eclesial: cidadãos e discípulos missionários; c. A ação transformadora na Igreja e no mundo. A passagem evangélica que, por partes, ilumina cada subtema: “Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor?” (Mt 3, 13). O leigo é o sal da terra: O sal dá sabor, cauteriza as feridas e preserva da corrupção. O documento se concentra na missão do leigo “como verdadeiro sujeito eclesial” (n. 1). Ele é sujeito na vida interna da Igreja e na ação no mundo à luz dos valores do Evangelho. Sua “vocação própria é administrar e ordenar as coisas temporais em busca do Reino de Deus” (n.5). Sua tarefa como sujeito eclesial na sociedade é abrangente: “sua primeira e imediata tarefa é o vasto e complicado mundo da política, da realidade social, da economia, da cultura, das ciências e das artes, etc” (n.6). “Seu mandato de caridade alcança todas as dimensões da existência, todas as pessoas, todos os ambientes da convivência e todos os povos. Nada do humano pode lhe parecer estranho.” (Papa Francisco, Evangelium Gaudium, EG, 2013, n. 181). Cabe ao leigo também “participar na ação pastoral da Igreja” (n.7), como “verdadeiros sujeitos eclesiais” (n.10). O documento apresenta alguns desafios em relação à inserção no mundo e ao discernimento. É preciso superar a atitude negativa em relação ao mundo. Para isso há necessidade de discernimento. Não são as modernas tecnologias que são ruins, mas a forma e finalidade com que a usamos. As formas cada vez mais sofisticadas de comunicação instantânea não são ruins em si mesmas, pois podem ser usadas para a Evangelização. No entanto, podem se tornar meios de dependência sempre mais acentuada de modo que prejudique a pessoa e interfira nas relações humanas. Ainda falta conscientização sobre a autêntica missão do leigo, que o Papa Bento XVI assim apresenta:
 “A corresponsabilidade exige uma mudança de mentalidade, relativa, em particular, ao papel dos leigos na Igreja, que devem ser considerados não como ‘colaboradores’ do clero, mas como pessoas realmente ‘corresponsáveis’ do ser e do agir da Igreja. Por conseguinte, é importante que se consolide um laicato maduro e comprometido, capaz de oferecer a sua contribuição específica para a missão eclesial, no respeito pelos ministérios e pelas tarefas que cada um desempenha na vida da Igreja, e sempre em comunhão cordial com os bispos” (Bento XVI, no Foro Internacional da Ação Católica, 2012) A presença muito tímida na sociedade tem sido preocupação da Igreja, especialmente abordada pelo Papa na EG n. 81ss. Ele ressalta, sobretudo, a falta de engajamento e uma espécie de fuga do comprometimento cristão: “Quando mais precisamos dum dinamismo missionário que leve sal e luz ao mundo, muitos leigos temem que alguém os convide a realizar alguma tarefa apostólica e procuram fugir de qualquer compromisso que lhes possa roubar o tempo livre.” (Papa Francisco, 2013, n. 81). Mas não é só o reconhecimento da missão do leigo como tal que vai tornar a Igreja mais dinâmica e mais coerente com sua autoimagem de Povo de Deus, de Igreja em saída. É preciso que o próprio leigo se prepare e assuma esta missão. As referências deste desafio foram abordadas no Documento de Aparecida (processo de formação dos discípulos missionários, n. 276ss). Outro momento de estudo e reflexão foi orientado pelo prof. Francisco Catão (na época do Concílio Vaticano II, era estudante de Teologia em Roma o que lhe permitiu participar como ‘ouvinte’ dos debates dos teólogos assessores do Concílio). O prof. Catão esclareceu a terminologia “Povo de Deus”, paradigma eclesiológico do Concílio Vaticano II, mas que muitas vezes é atribuída apenas aos leigos, acentuando uma Igreja dividida. Segundo Catão, a Igreja é Povo de Deus, porém, Povo de Deus ordenado, ou seja, onde há funções próprias de acordo com o modo de pertença. Há diferenças entre leigos e clérigos, porém, todos estão a serviço da mesma Igreja, o que constitui o laço de unidade da Igreja. A comissão do documento 105 também teve o cuidado de afirmar este conceito: “Todo o Povo de Deus, leigos, vida consagrada, diáconos, presbíteros e bispos, caminhando para a realização da plenitude do Reino.” (D. Leonardo U. Steiner, Doc. 105, introdução). Aqui cabem também as palavras do Papa Francisco: “É através do Batismo que nós somos introduzidos neste povo, através da fé em Cristo, dom de Deus que deve ser alimentado e crescer em toda a nossa vida.” (Audiência geral, 12/06/2013). Segundo a carta Iuvenescit Ecclesia (IE), a diversidade de carismas (dons divinos) é ação do Espírito Santo. Nos últimos anos, a Igreja foi enriquecida com multiformes agregações eclesiais: “Tanto antes como depois do Concílio Vaticano II, surgiram numerosas agregações eclesiais que constituem uma grande fonte de renovação para a Igreja e para a urgente «conversão pastoral e missionária»6 de toda a vida eclesial.“ (IE n.2) Os dons hierárquicos e dons carismáticos são igualmente relevantes para a vida e dinâmica da Igreja: João Paulo II (1998), disse: “Repetidas vezes sublinhei que na Igreja não existe contraste nem contradição entre a dimensão institucional e a dimensão carismática, da qual os Movimentos são uma expressão importante. Tanto uma como outra são co-essenciais na constituição divina da Igreja fundada por Jesus, uma vez que concorrem conjuntamente para tornar presente o mistério de Cristo e a sua obra salvífica no mundo”1 Bento XVI confirma o seu antecessor e acrescenta a necessidade de um certo ordenamento das novas realidades eclesiais. “Ambas as dimensões, originárias do Espírito Santo através do Corpo de Cristo, concorrem conjuntamente para tornar presente o mistério e a obra salvífica de Cristo no mundo”.2 O prof. Catão chamou a atenção para o fato que Papas anteriores se terem preocupado com a interpretação do Concílio e agora, com o Papa Francisco, vivemos um momento histórico, pois a principal preocupação é viver o Concílio. O principal, segundo ele, é não entender a Igreja como hierarquia à qual pertencem leigos, mas comunhão de pessoas livres, comunhão de homens e mulheres, presidida por Jesus e animada pelo Espírito Santo. Houve um debate intenso e compartilhamento em grupos sobre o documento 105, sobre os leigos e leigas, e diversas referências quanto a ações concretas durante o Ano do Laicato, 2017 – 2018, com início e fim marcados para a Festa de Cristo Rei, Dia do Laicato. Os debates resultaram em questionamento para todos os Movimentos e Serviços Eclesiais: Como compartilhar e viver os temas abordados nos documentos estudados em cada realidade? Como viver na prática o Ano do Laicato em sua associação / movimento, na Igreja local?

Curitiba, 25 de março de 2017.

Geni Maria Hoss

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