“A corresponsabilidade exige uma mudança
de mentalidade, relativa, em particular, ao papel dos leigos na Igreja, que
devem ser considerados não como ‘colaboradores’ do clero, mas como pessoas realmente
‘corresponsáveis’ do ser e do agir da Igreja. Por conseguinte, é importante que
se consolide um laicato maduro e comprometido, capaz de oferecer a sua contribuição
específica para a missão eclesial, no respeito pelos ministérios e pelas tarefas
que cada um desempenha na vida da Igreja, e sempre em comunhão cordial com os bispos”
(Bento XVI, no Foro Internacional da Ação Católica, 2012) A presença muito
tímida na sociedade tem sido preocupação da Igreja, especialmente abordada pelo
Papa na EG n. 81ss. Ele ressalta, sobretudo, a falta de engajamento e uma espécie
de fuga do comprometimento cristão: “Quando mais precisamos dum dinamismo
missionário que leve sal e luz ao mundo, muitos leigos temem que alguém os convide
a realizar alguma tarefa apostólica e procuram fugir de qualquer compromisso
que lhes possa roubar o tempo livre.” (Papa Francisco, 2013, n. 81). Mas não é
só o reconhecimento da missão do leigo como tal que vai tornar a Igreja mais
dinâmica e mais coerente com sua autoimagem de Povo de Deus, de Igreja em
saída. É preciso que o próprio leigo se prepare e assuma esta missão. As referências
deste desafio foram abordadas no Documento de Aparecida (processo de formação
dos discípulos missionários, n. 276ss). Outro momento de estudo e reflexão foi orientado
pelo prof. Francisco Catão (na época do Concílio Vaticano II, era estudante de
Teologia em Roma o que lhe permitiu participar como ‘ouvinte’ dos debates dos
teólogos assessores do Concílio). O prof. Catão esclareceu a terminologia “Povo
de Deus”, paradigma eclesiológico do Concílio Vaticano II, mas que muitas vezes
é atribuída apenas aos leigos, acentuando uma Igreja dividida. Segundo Catão, a
Igreja é Povo de Deus, porém, Povo de Deus ordenado, ou seja, onde há funções
próprias de acordo com o modo de pertença. Há diferenças entre leigos e
clérigos, porém, todos estão a serviço da mesma Igreja, o que constitui o laço
de unidade da Igreja. A comissão do documento 105 também teve o cuidado de
afirmar este conceito: “Todo o Povo de Deus, leigos, vida consagrada, diáconos,
presbíteros e bispos, caminhando para a realização da plenitude do Reino.” (D.
Leonardo U. Steiner, Doc. 105, introdução). Aqui cabem também as palavras do
Papa Francisco: “É através do Batismo que nós somos introduzidos neste povo,
através da fé em Cristo, dom de Deus que deve ser alimentado e crescer em toda
a nossa vida.” (Audiência geral, 12/06/2013). Segundo a carta Iuvenescit
Ecclesia (IE), a diversidade de carismas (dons divinos) é ação do Espírito
Santo. Nos últimos anos, a Igreja foi enriquecida com multiformes agregações eclesiais:
“Tanto antes como depois do Concílio Vaticano II, surgiram numerosas agregações
eclesiais que constituem uma grande fonte de renovação para a Igreja e para a
urgente «conversão pastoral e missionária»6 de toda a vida eclesial.“ (IE n.2)
Os dons hierárquicos e dons carismáticos são igualmente relevantes para a vida
e dinâmica da Igreja: João Paulo II (1998), disse: “Repetidas vezes sublinhei
que na Igreja não existe contraste nem contradição entre a dimensão institucional
e a dimensão carismática, da qual os Movimentos são uma expressão importante.
Tanto uma como outra são co-essenciais na constituição divina da Igreja fundada
por Jesus, uma vez que concorrem conjuntamente para tornar presente o mistério
de Cristo e a sua obra salvífica no mundo”1 Bento XVI confirma o seu antecessor e
acrescenta a necessidade de um certo ordenamento das novas realidades
eclesiais. “Ambas as dimensões, originárias do Espírito Santo através do Corpo de
Cristo, concorrem conjuntamente para tornar presente o mistério e a obra
salvífica de Cristo no mundo”.2 O prof. Catão chamou a atenção para o fato que Papas
anteriores se terem preocupado com a interpretação do Concílio e agora, com o
Papa Francisco, vivemos um momento histórico, pois a principal preocupação é
viver o Concílio. O principal, segundo ele, é não entender a Igreja como
hierarquia à qual pertencem leigos, mas comunhão de pessoas livres, comunhão de
homens e mulheres, presidida por Jesus e animada pelo Espírito Santo. Houve um
debate intenso e compartilhamento em grupos sobre o documento 105, sobre os
leigos e leigas, e diversas referências quanto a ações concretas durante o Ano
do Laicato, 2017 – 2018, com início e fim marcados para a Festa de Cristo Rei,
Dia do Laicato. Os debates resultaram em questionamento para todos os Movimentos
e Serviços Eclesiais: Como compartilhar e viver os temas abordados nos
documentos estudados em cada realidade? Como viver na prática o Ano do Laicato
em sua associação / movimento, na Igreja local?
Curitiba, 25 de março de 2017.
Geni Maria Hoss
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