"O processo de aperfeiçoamento e evolutivo é inerente à caminhada na
aliança com Deus. A criação não
é um ato acabado por um criador ‘aposentado’ de suas funções, como sugere o
cientificismo, também não é um estado estático, mas obra de um Deus
presente e previdente, que leva à perfeição aquilo que criou, segundo seu
projeto original: “A criação tem sua bondade e sua perfeição próprias, mas não
saiu completamente acabada das mãos do Criador. Ela é criada ‘em estado de
caminhada’ (in statu viae’) para uma perfeição última a ser ainda atingida,
para a qual Deus a destinou”[1].
Deus está continuamente presente na criação, ele “está em atividade criadora permanente e constante, proporcionando,
deste modo, subsistência à realidade criada”[2].
A visão dinâmica de mundo aparece
no Concílio Vaticano II, no entanto, na prática, ainda hoje se apresenta de
forma tímida. A assembleia conciliar (Vaticano II) constata e vislumbra para o
futuro um novo paradigma, o da dinamicidade e complexidade. O modo de pensar e
agir carregado de uma perspectiva, sobremaneira estática, dá lugar a uma visão
de uma realidade dinâmica, o que traz consigo novos desafios.
Acabou-se o tempo em que
as diferentes partes da humanidade estavam voltadas a destinos diversos.
Passou-se de uma visão estática para uma visão dinâmica e evolutiva do mundo,
gerando novos problemas, que reclamam novas análises e novas sínteses[3].
A visão de mundo dinâmico, em
movimento, com formas de vida diversas, em constante inter-relacionamento, em
vista do seu fim escatológico, traz em si a ideia de um Deus Criador de um
mundo em contínua evolução, em statu viae
para atingir seu fim último, seu fim escatológico, e, somente nesta
dimensão se pode falar da perfeição da criação.
Teilhard de Chardin SJ (1881 – 1955) sugere que, ao aproximar-se das
ciências naturais, se entenda Cristo não somente como o Alpha, mas que se
acentue também o Ômega (cf. Ap 22, 13). Para ele, é urgente a superação de uma
visão de mundo que contemple ciência sem Deus e a visão de um Deus desconectado
do mundo, herança da Idade Moderna, ou seja, do reinado do cientificismo. A
plenitude é alcançada na ressurreição em Cristo, esperança e força motriz para
a qual caminha toda a criação. Cristo é a causa
finalis da criação[4].
A afirmação “Tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1,16b) tem
importância especial no pensamento de Chardin. Com base em estudos científicos
da época, inclusive na área da paleontologia, Chardin faz reflexão teológica
sobre o caráter evolutivo e complexo da criação onde não só o começo, mas
também o fim, e toda a extensão da criação tem como ponto convergente Cristo[5]. Embora, em muitos
círculos eclesiais, a cosmologia de Chardin não tenha recebido a justa
recepção, a ideia da dinamicidade e evolução tem influenciado teologia como um
todo. O debate hoje é no sentido de evitar uma visão científica reducionista da
pessoa humana, ponto ainda tenso na relação fé – ciência. Reduzir a criação e
sentido de existência humana à dimensão psicobiológica acentua as dificuldades
na perspectiva cristã, segundo a qual o ser humano é criado à imagem e
semelhança de Deus. Do ponto de vista teológico-cristão, o sentido do ser e
estar no mundo, de todo ser criado reside no seu processo contínuo de redenção
em vista do seu fim escatológico, quando então atinge a perfeição desejada por
Deus. “A economia da ação salvífica divina abrange, junto com a origem
criadora da história, da presença permanente de Deus e seu agir salvador em
Jesus Cristo, em última análise, também sua perfeição prometida no vindouro
Reino de Deus”[6].
[1]
CATECISMO da Igreja Católica, 1999, n. 302.
[2]
SATTLER, 2002, p. 194.
[3]
CONCILIO VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et spes. Sobre a Igreja no mundo contemporâneo, 22. In:
VATICANO II. Mensagens, Discursos, Documentos. Tradução Francisco Catão. 2.
ed. São Paulo: Paulinas, 2011, n. 5.
[4]
Cf. KEHL, 2008, p. 329.
[5]
Cf. KEHL, 2008, p. 330.
[6] KEHL, 2008, p. 83: “Die OIkonomia des
göttlichen Heilshandelns umgreift zusammen mit dem schöpferischen Ursprung der
Geschichte, der ständigen Präsenz Gottes und seinem erlösenden Handeln in Jesus
Christus schließlich auch ihre verheißene Vollendung im kommenden Reich Gottes“.
(Tradução nossa).
(HOSS, Geni Maria. A Relevância da concepção bioética de Fritz Jahr para a abordagem ecológica da Teologia Prática, 2013)
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