Artigos e pensamentos
21 de fev. de 2015
Campanha da Fraternidade 2015: Igreja e Sociedade!
Marcadores:
Campanha da Fraternidade,
Doutrina Social da Igreja.,
Igreja,
Servir
Local:
Paraná, Brasil
12 de fev. de 2015
"Os filhos são um dom".
Nas assessorias e palestras teológico-pastorais nas comunidades ou encontros de grupos é muito comum encontrar esta realidade: Pais com dificuldades de estabelecer as fronteiras entre o cuidado e preocupação com os filhos e o exagerado controle como se fossem seus proprietários; pais frustrados que querem realizar seus projetos de vida falidos ou incompletos em seus filhos. Assim muitos jovens entram em universidades para fazer o estudo dos pais e não os seus, escolhem o namorado/a que agrada aos pais que pode não ser aquela pessoa para um projeto de vida duradouro. Como cuidar a vida confiada por Deus sem apossar-se dela? Como deixar os filhos a realizar seu projeto de vida, que pode ser muito diferente das expectativas e sonhos dos pais? Como é importante abrir-se ao plano de Deus, sem deixar de cuidar e amar a vida.
“Os filhos são a alegria da família e da sociedade. Eles não são um problema da biologia reprodutiva, tampouco um dos tantos modos de realização pessoal ou de posse dos próprios pais. Os filhos são um dom. Cada um é único e irrepetível e, ao mesmo tempo, inconfundivelmente ligado às suas raízes. Segundo os desígnios de Deus, os filhos trazem em si a memória e a esperança de um amor que lhes deu origem, de forma original e nova” Papa Francisco, catequese 11/02/2015).
9 de fev. de 2015
Criação e Sustentabilidade
2.1 A responsabilidade ética na raiz da fé criacional*
O tema deste capítulo – ecologia e
sustentabilidade – busca na teologia da criação seu significado e seus
fundamentos. Compreender a criação a partir da nova criação em Cristo é
fundamental para que se supere uma leitura fragmentada dos textos bíblicos,
enfraquecendo muitas vezes a dimensão soteorológica e escatológica, que lhe dão
o verdadeiro sentido.
A criação é o fundamento de
"todos os desígnios salvíficos de Deus", "o começo da história
da salvação", que culmina em Cristo. Inversamente, o mistério de Cristo é
a luz decisiva sobre o mistério da criação; ele revela o fim em vista do qual,
"no princípio, Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1): desde o início,
Deus tinha em vista a glória da nova criação em Cristo[1].
2.1.1
A fé criacional
Crer em Deus Criador é essencialmente crer que ele tudo criou por amor. O
amor de Deus precede a criação. Amor que é sua essência como Deus, que é uno e
trino. Os vínculos do amor se dão em primeiro plano no seio da Trindade. A criação está no
início da história da aliança de Deus. Aquele que é o grande Criador é também
aquele que está em aliança com seu povo e sua criação. Esta aliança constitui a
dinâmica relacional Criador – criação – Criador.
A revelação da criação é
inseparável da revelação e da realização da Aliança de Deus, o Único, com o seu
Povo. A criação é revelada como sendo o primeiro passo rumo a esta Aliança,
como o testemunho primeiro e universal do amor Todo-Poderoso de Deus[2].
Na aliança com Noé
aparece de forma singular o cuidado da vida. A arca é o lugar do cuidado da
vida. É,
portanto, uma aliança com a vida! A família de Noé – a pomba – o ramo – a terra
são referências à vida, a distintos elementos da natureza. “Pode-se
falar [...] de uma aliança cósmica, proporcional ao estado de perversidade e a
punição”[3].
Portanto, Deus se relaciona não
só com o ser humano, mas com toda a sua criação. Dos seres humanos, ele espera
fidelidade à aliança. "Se
ouvirdes minha voz e guardardes minha aliança, sereis para mim um reino de
sacerdotes e uma nação santa" (Ex 19,5-6). É Deus que dá forma e, no conjunto de todas as
coisas, define um lugar para cada coisa, a partir do qual, ele é importante
para o conjunto da criação. A ação criadora está fundada única e exclusivamente
na sua vontade e sua palavra. Ele cria do nada - creatio ex nihilo – e só por amor - creatio ex amore.
Como a teoria do Big Bang não
exclui de fato a possibilidade de um precedente estado da matéria, é
possível relevar que ela parece dar um apoio simplesmente indireto à
doutrina da creatio ex nihilo que, como tal, só se pode conhecer através
da fé[4].
O princípio criador está baseado na total gratuidade do Criador. Ele
cria no princípio - creatio in principio -. "No princípio, Deus criou o céu e a
terra" (Gn 1,1). A criação no princípio culmina com a nova criação em
Cristo. “Deus eterno pôs um começo a tudo o que existe fora dele. Só ele é
Criador (o verbo ‘criar’ - em hebraico, 'bara' sempre tem como sujeito Deus).
Tudo o que existe (expresso pela fórmula ‘o céu e a terra’) depende daquele que
lhe dá o ser”[5]. Ele
cria e conserva o que criou. “É Deus que, numa creatio
continua lhes dá a vitalidade e os mantém na existência”[6]. Nenhuma criatura
sobrevive sem luz e sem água, nenhum ser humano vive sem amor. A criação
depende da vontade permanente de Deus para que ela continue a existir. A
creatio continua é a dimensão da fé que permite vislumbrar uma imensurável
dinamicidade da criação. Trata-se de incontáveis processos vitais do conjunto
de ecossistemas, na perspectiva cristã, não estão dissociados da criação in principio e, por isso, com razão se
pode afirmar a criação in statu viae[7]. A criação não caminha para um fim aleatório, sem rumo
e sem sentido. Existe um desígnio original em relação à criação como um todo,
mas também em relação a cada criatura. "Muitos são os projetos do coração humano,
mas é o desígnio do Senhor que permanece firme" (Pr 19,21). Este desígnio
está ligado ao modo de ser e estar no
mundo sempre numa perspectiva escatológica. A fé na providência de Deus é,
sobretudo, a fé no desígnio do Criador com sua criação e identificá-lo permite
entender o sentido e significado do movimento de todas as coisas criadas.
Ela [a criação] é criada
‘em estado de caminhada’ [‘in statu viae’] para uma perfeição última a ser
ainda atingida, para a qual Deus a destinou. Chamamos de divina providência as
disposições pelas quais Deus conduz sua criação para esta perfeição[8].
A perspectiva escatológica da criação, a perfeição alcançada em Cristo,
é o horizonte que ilumina a caminhada do Povo de Deus. Embora, na caminhada, a
aliança é sempre de novo reestabelecida, o pecado pessoal e estrutural somente
será plenamente vencido na dimensão escatológica. Não obstante, o plano de Deus
não está sujeito a interferências das infidelidades humanas.
Deus conserva e governa com
sua providência tudo o que criou; ela se estende "com vigor de um extremo
ao outro e governa o universo com suavidade" (Sb 8,1). Pois "tudo
está nu e descoberto aos seus olhos" (Hb 4,13), mesmo os atos dependentes
da ação livre das criaturas[9].
Num tempo pós-reinado do cientificismo (da ciência como verdade
absoluta, única e definitiva), há maior receptividade de outras abordagens,
considerando-se que o avanço das descobertas científicas confronta a ciência
também com seus próprios limites. Acidentes aleatórios, acasos e contingências
não são incompatíveis com a providência de Deus porque “a causalidade divina
pode estar ativa em um processo que é ou contingente ou dirigido”[10]. Como Deus
providente “Deus é o Senhor soberano de
seus desígnios, mas para a realização dos mesmos, serve-se também do concurso
das criaturas”[11]. Existe uma reciprocidade dinâmica entre o Criador e
a criatura consciente, habilitada para a relação com o transcendente, o que se
constitui numa relação de responsabilidade ética com todo o mundo criado. Quando Deus for
“tudo em todos” (1 Cor 15,28) e todo pecado e sofrimento for superado, então a Nova Criação será realidade. “Nela deve
se realizar – que foi dito de forma antecipada por Jesus Cristo – o sim
incondicional da criação como resposta à palavra criadora de Deus”[12]. A atitude exigida é do cuidado e
compaixão e não da destruição. A compaixão desdobra-se em cuidados pelo outro.
Acontece na experiência de alteridade. O outro dá sentido ao empenho em prol de
todas as formas de vida. Portanto,
não cabe uso indiscriminado dos bens da Terra e intervenções destruidoras de
vida em benefício e conforto ilimitado próprio.
[1]
CATECISMO da Igreja Católica, 1999, n. 280.
[2]
CATECISMO da Igreja Católica, 1999, n. 288.
[3]
PONTIFÍCIA Comissão Bíblica, 2009, n. 21.
[4]
COMISSÃO Teológica Internacional. Comunhão
e Serviço: A pessoa humana criada à imagem de Deus, 2004. Disponível em:
<http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_con_cfaith_doc_20040723_communion-stewardship_po.html.>
Acesso em: 25 ago. 2013.
[5]
CATECISMO da Igreja Católica, 1999, n. 290.
[6]
PONTIFÍCIA Comissão Bíblica, 2009, n. 09.
[7]
Cf. CATECISMO da Igreja Católica, 1999, n. 302.
[8]
CATECISMO da Igreja Católica, 1999, n. 302.
[9]
CATECISMO da Igreja Católica, 1999, n. 302.
[10]
COMISSÃO Teológica Internacional, 2004, n. 69.
[11]
CATECISMO da Igreja Católica, 1999, n. 306.
* IN: HOSS, Geni Maria. A relevância da concepção bioética de Frita Jahr para a abordagem ecológica da Teologia Prática. 2013, p. 76ss
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