A liberdade nos foi doada na cruz de Cristo. Ele
nos libertou e, por isso, concedeu-nos participar da plenitude de sua vida. Na morte,
deu-nos a vida; no sofrimento, conquistou para nós a plena liberdade dos filhos e filhas de Deus.
O tempo quaresmal, por ser tempo de conversão,
possibilita o caminho da verdadeira liberdade. Os exercícios quaresmais do jejum,
da oração e da esmola nos abrem silenciosamente para o encontro com Aquele que é a
plenitude da vida, com Aquele que é a luz e a vida de toda pessoa que vem a este mundo (cf.
Jo 1,10). Jejum, muito mais do que uma privação, é esvaziamento, uma expropriação;
tentativa de deixar-nos atingir pela graça da liberdade com que Cristo nos presenteou. O jejum
abre o nosso ser para a receptividade da vida nova, da liberdade. A oração é a exposição de quem
espera ser atingido pela misericórdia d’Aquele que nos amou primeiro e até o fim (cf. Jo
4,10). A esmola é o amor partilhado; é deixar-se tomar pela dinâmica da caridade; é sair
de si mesmo; é deixar-se tocar pela presença do outro, especialmente do mais necessitado.
No caminho de conversão quaresmal, a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos apresenta a Campanha da Fraternidade
como itinerário de libertação pessoal, comunitária e social. Tráfico Humano e Fraternidade é o tema da Campanha para a quaresma em 2014. O lema é inspirado na carta aos Gálatas: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” ( 5,1).
O tráfico humano é o cerceamento da liberdade e o
desprezo da dignidade dos filhos e filhas de Deus. Jesus recorda que o conhecimento da
verdade liberta: “conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres” (Jo 8,32). A
verdade liberta, pois traz à luz o sentido da grandeza, da beleza, da dignidade da pessoa humana. Ser
filho, filha de Deus é a verdade que liberta, torna livres, deixa viver na liberdade! A liberdade deixa entrever a dignidade única e transparente da pessoa humana. Todos os laços, amarras que impedem
a liberdade desfiguram o homem e a mulher criados à “imagem e semelhança de Deus” (cf.
Gn 1,26). O tráfico humano é um dos modos atuais da escravidão.
O tráfico humano de hoje é, certamente, fruto da
cultura em que vivemos. A Campanha da Fraternidade, ao trazer à luz este verdadeiro
drama humano, deseja despertar a sensibilidade de todas as pessoas de boa vontade. “A cultura do
bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos
outros; faz-nos viver como se fôssemos bolhas de sabão: são bonitas, mas não são nada, são pura ilusão do fútil, do provisório. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros;
antes, leva à globalização da indiferença.
Neste mundo da globalização, caímos na globalização
da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro; não nos diz respeito, não nos
interessa, não é responsabilidade nossa!” (Papa Francisco, Lampedusa, Itália, 8 de julho de
2013).
O tráfico humano viola a grandeza de filhos,
destrói a imagem de Deus, cerceia a liberdade daqueles que foram resgatados por Cristo.
As comunidades, as famílias, as pessoa certamente buscarão superar a globalização da
indiferença em relação ao tráfico humano.
Provavelmente, diante do desespero das pessoas
traficadas, despertaremos para o “padecer com”. E, assim, não seremos tomados pela
globalização da indiferença que nos tirou a capacidade de chorar (cf. Papa Francisco,
Lampedusa, Itália, 8 de julho de 2013). “Peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa indiferença, de chorar pela crueldade que há no mundo, em nós, incluindo aqueles que, no
anonimato, tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada a dramas como
este” (Papa Francisco, Lampedusa, Itália, 8 de julho de 2013).
Maria das Dores nos acompanhe no caminho de
conversão! Jesus Cristo crucificado ressuscitado, que nos libertou do pecado e da morte, anime nossos
passos na participação em sua morte e ressurreição. A todos, irmãos e irmãs, famílias e Comunidades,
uma abençoada Páscoa.
Brasília, 6 de agosto de 2013
Festa da Transfiguração do Senhor
+ Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário
Geral da CNBB
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