5 de fev. de 2016

Aedes aegypti: dengue, chikungunya e zika vírus - um chamado para a responsabilidade coletiva!

Viver livre e autônomo na condição humana e a condição que nos é dada pelo fato de existirmos, sem escolhas nem apropriações, é a vivência e convivência num ambiente bem conformado segundo suas próprias leis e processos totalmente alheios à nossa vontade. Nossa condição é que nascemos como seres individuais, com identidade própria, mas dentro de um ambinte onde sobrevivemos graças a múltiplas relações e interrelações. Há uma interdependência irrenunciável tanto de outros semelhantes, mas também de outras espécies de vida e das condições do meio ambiente. Não vivemos sem água, não vivemos sem ar, não vivemos sem bactérias, não vivemos … não vivemos … Somos um ser único e importante, mas somos um entre bilhões, trilhões … ou seja, incontáveis e que nos confundem pela sua imensidão.
Então, por que agimos de forma tão egoísta como se o mundo todo precisasse girar em torno de nós próprios? Por que agimos como se fossemos o centro em torno do qual gira tudo e todos?
Quando pensamos nos grandes desafios que assolam a humanidade hoje não podemos perder a alegria de viver, o prazer de sermos únicos, autônomos e livres, mas é importante que desçamos do pedestal e pisemos o chão da realidade, que é comunhão e partilha de sorte e destino. Nossa casa comum é um barco, ou nos salvamos ou afundamos todos.
Graças à inteligência e eficiência de muitos que atuaram em conjunto, hoje temos tantas possibilidades de aproximação da humanidade. No entanto, o processo de globalização se deu de forma unilateral. Ela se tornou serva das tecnologias a serviço de humanos pouco humanos, porque esqueceram o bem dos outros humanos. Aceleram-se os processos de produção e acúmulo de riquezas, mas não se globalizou na mesma medida a solidariedade e o amor. Ampliou-se e consolidou-se uma sociedade demasiada fria e calculista. 
A mobilidade humana, quase sem fronteiras, trouxe muitas coisas boas. Mas no momento estão no topo também os seus desafios. Ela implica também na migração sempre mais acelerada de doenças transmissíveis que, infelizmente só assustam quando chegam aos países mais ricos. Neste caso as migrações até ajudam para chamar atenção desta tragédia, pois não há país que se possa isolar tanto a ponto de não precisar temer riscos. O ser humano pode tanta coisa, mas não consegue vencer um mosquito. O aedes egypti está literalmente reinando no mundo, os demais governantes só estão correndo atrás do prejuízo para  acharem um caminho para defender-se dele.
Enquanto autoridades locais e internacionais discutem soluções nas macroesferas sociais, cada ser humano, onde quer que se enontre, no exercício de sua liberdade e autonomia, mas consciente de sua responsabilidade ética individual e coletiva , está perante grande desafios. É hora de superar o individualismo e olhar para o coletivo até porque, se vivemos num emaranhado de interdependências, cuidar de si mesmo é um bem coletivo. Onde todos cuidam de si e avançam com olhares ao seu entorno é possível criar um ambiente propício para a superação dos males que hoje nos assolam. Campanhas resultam em respostas rápidas, muitas vezes radicais, mas não duradouras. Compreender que somos parte de um todo, distintos, mas não separáveis deve levar-nos a uma mudança de comportamento, a uma postura perante a vida de todos e todas as formas de vida que seja duradoura.
Há uma dimensão da vulnerabilidade que nasce da carência de responsabilidade ética coletiva. Espaço individual se confunde com o público uma vez que os criadouros se localizam muitas vezes em propriedades particulares, o que torna as intervenções conflituosas. Entende-se a propriedade particular delimitada com linhas bem definidas, ignorando-se muitas vezes a interação com o seu entorno. Compreende-se que a propriedade particular não é ao todo particular absoluto uma vez que são espaços de interação com o espaço coletivo. Liberdade como posso fazer o que eu quero não combina com o compromisso ético com as consequências das ações.

É hora de entender que nosso ser e estar no mundo não tem seu espaço individual, mas nunca absoluto. O que faço e deixo de fazer repercute no todo, no espaço coletivo, e sobre esta interrelação também tenho uma responsabilidade ética. Sou responsável pelo que fiz e omiti, mas também por aquilo que identifiquei, mediante o qual não reagi e nem denunciei, por que a consequência pode ser fatal para muitos, inclusive para mim. A passividade e inércia pode tornar-se uma arma poderosa contra mim e meu entorno. Eis a questão: Pensar no meu bem, mas sempre também no bem coletivo, porque o primeiro não é possível sem o segundo e vice-versa.