A Campanha da Fraternidade 2015
abre um grande leque onde a Igreja é chamada a servir. Serviço que compreende
pequenos gestos de atenção aos irmãos, de ordem pessoal ou integrado em alguma
organização, como as Pastorais Sociais, mas também um engajamento efetivo nas
diversas esferas sociais e políticas que visem o bem comum e garantam o
respeito à dignidade das pessoas e da “casa comum” – o ambiente - onde vivem. Desta
forma, a Igreja – Povo de Deus, testemunha, com autenticidade, a mensagem do
Evangelho. “Eu vim para servir” (Cf. Mt 10,
45). Este lema vem alinhado ao atual momento de toda a Igreja. Desde sua
primeira aparição em público, o Papa Francisco tem assinalado para uma Igreja que
assuma características sempre mais consistentes, segundo o Concílio Vaticano
II. Uma Igreja pobre, uma Igreja não seja tranquila, este é o desejo e também contribuição
do Papa Francisco. Trata-se, portanto, de uma Igreja com raízes
bem sólidas na fé cristã nascente e com uma abertura incondicional às
realidades humanas hoje. Ou seja: Uma Igreja congregada em torno da Eucaristia
e de serviço aos irmãos.
Uma Igreja solidária, servidora e missionária!
A Igreja é, por natureza, missionária! Em Aparecida, os Bispos afirmaram
a Igreja essencialmente missionária, que vai ao encontro de cada pessoa (DAp n.
548): “Não podemos ficar tranquilos em espera passiva em nossos templos”.
Esta constatação inquietante resulta da percepção dos sinais dos tempos em nosso Continente e do propósito de dar uma
resposta efetiva ao sair de qualquer forma de conforto e comodismo para ajudar
os irmãos na fé e todo o gênero humano
(DAp n. 548):
"É urgente ir em todas as direções para proclamar que o mal e
a morte não têm a última palavra, que o amor é mais forte, que fomos libertos e
salvos pela vitória pascal do Senhor da história, que Ele nos convoca em
Igreja, e quer multiplicar o número de seus discípulos na construção do seu
Reino em nosso Continente!"
Esta Igreja solidária, servidora
e missionária, de que fala o Hino da Campanha, é possível se as comunidades – e
cada cristão - se abrirem para a renovação em diversas esferas e se decidam de
forma renovada e aprofundada por Cristo. A grande renovação de toda a Igreja, como
vem sendo anunciada, não se reduz a algumas mudanças estruturais. A renovação é
antes de tudo conversão particular e comunitária, é colocar Cristo, o
Ressuscitado, no centro e permitir e, a partir dele e com ele, sair de si mesmo
para ir ao encontro do outro. Faz-se
necessário uma conversão ampla e consistente (DAp n. 370): “A conversão
pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera
conservação para uma pastoral decididamente missionária”.
A renovação anunciada e desejada pelo Papa Francisco está pautada na
eclesiologia do Concílio Vaticano II, ou seja, é a retomada da fé autêntica das
primeiras comunidades cristãs, a reconciliação com a história, com tantos
desvios e desalinhamentos com a comunidade cristã nascente. Neste sentido, renovar
é acolher a ação do Espírito Santo, a vontade de Deus, no decorrer da história.
É permitir que nas raízes bem firmes no chão da fé cristã, nasça uma nova
árvore para cada tempo e lugar. É também
a compreensão de que a missão faz parte da adesão a Cristo. Ser missionário não
é privilégio e competência de alguns cristãos, mas faz parte da pertença à
comunidade cristã.
Cada discípulo missionário, no seu ambiente, é chamado a edificar o
Reino. “O Espírito Santo fortalece a identidade do discípulo e desperta
nele a decidida vontade de anunciar com audácia aos demais o que tem escutado e
vivido” (DAp n. 251). Mais uma vez voltamos à centralidade da fé cristã,
Cristo, Cristo na Eucaristia. É na Eucaristia que os missionários se alimentam
e fortalecem para a missão (DAp n. 251):
"A Eucaristia, fonte inesgotável da vocação cristã é, ao mesmo
tempo, fonte inextinguível do impulso missionário. Aí, o Espírito Santo
fortalece a identidade do discípulo e desperta nele a decidida vontade de
anunciar com audácia aos demais o que tem escutado e vivido".
Aparecida diz que cada cristão é
discípulo missionário e este (DAp n. 147) “há de ser um homem ou uma mulher que
torna visível o amor misericordioso do Pai, especialmente para com os pobres e
pecadores”. É para eles que o discípulo missionário é enviado. Sobre esta questão,
o Papa Francisco afirma (EG n. 49):
"Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a
nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz
e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os
acolha, sem um horizonte de sentido e de vida".
Se aqui se refere como maior inquietude o exercício da caridade, basta
olhar para o Evangelho e perceber quanto Jesus foi aquele que foi ao encontro,
se inclinou diante do necessitado, especialmente dos mais vulneráveis da época.
Assim não podemos afirmar a fidelidade ao Evangelho, senão pelo profundo amor
ao próximo. Desde Aparecida, a Igreja local se propõe a edificar uma Igreja em estado de missão (Cf. DAp 213). O
desafio para tal é a resposta de cada cristão para sair de si e ir ao encontro.
O anúncio mais elementar do Evangelho é a pregação através da caridade, uma
caridade que implica num verdadeiro encontro com o outro, a autêntica caridade
desejada por Cristo. A caridade que promove a dignidade do outro (EG n. 180):
"E a nossa resposta de amor também não deveria ser entendida
como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos
necessitados, o que poderia constituir uma «caridade por receita», uma série de
ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência".
Não se trata de desmerecer os
milhões de gestos de caridade que se realizam mundo afora, mas de compreender
que a ação dos cristãos, dos discípulos missionários, tem de ser mais incisiva na
sociedade como decorrência da fé. O Papa
continua (EG n. 180):
"A proposta é o Reino de Deus (cf. Lc 4, 43); trata-se de amar
a Deus, que reina no mundo. Na medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a
vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade
para todos. Por isso, tanto o anúncio como a experiência cristã tendem a provocar
consequências sociais".
A proposta do Reino é exigente!
Faz-se necessário um engajamento mais intenso e abrangente do discípulo
missionário. Ele deve alcançar todas as esferas da sociedade. Mas o cristão que
ainda não conseguiu realizar uma experiência profunda de relação pessoal com
Deus, ainda não aderiu incondicionalmente a Cristo, tem dificuldades de abraçar
a causa missionária. Ele pode estar mais preocupado com suas coisas, seu tempo,
ou seja, tende a viver de forma egoísta a sua fé, a vê-la apenas como uma
espécie de remédio para os momentos difíceis – as causas urgentes. Segue o Papa
(EG n. 81): “Quando mais precisamos dum dinamismo missionário que leve sal e
luz ao mundo, muitos leigos temem que alguém os convide a realizar alguma
tarefa apostólica e procuram fugir de qualquer compromisso que lhes possa
roubar o tempo livre”. A nossa abertura deve ser, por isso, constante, pois as coisas do mundo são atraentes e facilmente
nos desviam do nosso serviço no Reino de Deus.
O discípulo missionário é
convidado a dar testemunho a partir de suas experiências de fé. Ele é decorrência da própria fé. Daí a
importância, a ser ressaltada mais uma vez, de fazer a experiência profunda com
Deus. O testemunho é fundamental para que a Boa Nova seja acolhida. A este respeito,
São João Paulo II diz (RM n. 42):
"O homem
contemporâneo acredita mais nas testemunhas do que nos mestres, mais na experiência do que na doutrina, mais
na vida e nos factos do que nas teorias. O testemunho da vida cristã é a
primeira e insubstituível forma de missão: Cristo, cuja missão nós continuamos,
é a « testemunha » por excelência (Ap 1, 5; 3, 14) e o modelo do testemunho
cristão. O Espírito Santo acompanha o caminho da Igreja, associando-a ao
testemunho que Ele próprio dá de Cristo (cf. Jo 15, 26-27)".
Cabe aqui questionar-se sobre os
elementos essenciais da fé cristã. A nossa profissão de fé implica uma ação
efetiva em favor dos irmãos. Deus é nosso Pai e, pela Encarnação do Filho,
elevou cada filho seu a uma dignidade ímpar, que requer um especial cuidado por
parte de toda a Família Humana, especialmente àqueles que assumiram um
compromisso social fundado na fé cristã. Dizem os bispos em Aparecida (DAp n. 55):
"A ênfase na experiência pessoal e no vivencial nos leva a
considerar o testemunho como componente chave na vivência da fé. Os fatos são
valorizados quando são significativos para a pessoa. Na linguagem testemunhal
podemos encontrar um ponto de contato com as pessoas que compõem a sociedade e
delas entre si".
Nós devemos dar testemunho do
Mandamento do Amor. Não há outra forma de testemunhar a fé em Deus e sua
presença no mundo. O anúncio não pode prescindir do testemunho, testemunho do
amor misericordioso de Deus. Podemos fazê-lo de diversas formas, mas a essência
nasce no coração do Evangelho. Os bispos ensinam a este respeito (DAp n. 138):
"Amem-se uns aos outros, como eu os amei” (Jo 15,12). Este
amor, com a medida de Jesus, com total dom de si, além de ser o diferencial de
cada cristão, não pode deixar de ser a característica de sua Igreja, comunidade
discípula de Cristo, cujo testemunho de caridade fraterna será o primeiro e
principal anúncio: “Todos reconhecerão que sois meus discípulos” (Jo 13,35)".
Podemos concluir este pensamento
com as palavras do Papa Francisco (Mensagem para a Campanha da Fraternidade
2015): “Quando Jesus nos diz 'Eu vim para servir', no ensina aquilo que resume
a identidade do cristão: amar servindo”.
Igreja em estado de missão:
O anúncio do Evangelho.
Segundo o teólogo Norbert Mette
(2005, p. 79), “a Igreja não veio para outra coisa senão para anunciar o
Evangelho a todas as pessoas”. A consciência desta incumbência divina – a
própria razão de ser da Igreja – é importante para se edificar uma Igreja na
concepção do Vaticano II sem risco de transformá-la numa ONG ou qualquer outra
forma de instituição social. Toda ação solidária deve nascer do coração do
Evangelho e remeter-se aos valores evangélicos em todos os tempos e lugares.
O Papa Francisco, na exortação apostólica Evangelii
Gaudium (cf. EG n. 84), apela para a superação de um “pessimismo estéril”. A mensagem salvífica é de alegria e esperança (EG
n. 84): “A
alegria do Evangelho é tal que nada e ninguém no-la poderá tirar (cf. Jo 16,
22). Os males do nosso mundo – e os da Igreja – não deveriam servir como
desculpa para reduzir a nossa entrega e o nosso ardor. Vejamo-los como desafios
para crescer”. O discípulo missionário deve anunciar e acolher a Boa Nova do amor e
misericórdia de Deus, com alegria e esperança. Segundo a Evangelium Gaudium (EG
n. 14),
"os cristãos têm o dever de o anunciar, sem excluir ninguém, e
não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria,
indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível. A Igreja não
cresce por proselitismo, mas «por atração»".
O Evangelho da alegria e esperança deve chegar com sua mensagem
inclusiva à sociedade de exclusão. Jesus não fazia acepção de pessoa, ele se
aproxima do pecador, ele sabe quem precisa de conversão. Conforme a Evangelii Gaudium (EG n. 177), “o
querigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do
Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo
do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a
caridade”. O anúncio da Boa Nova tem consequências próprias de quem acolhe a
Palavra.
Algumas condições intra- e
extraeclesiais tornam o anúncio ainda mais desafiador. Vivemos numa sociedade
extremamente egoísta. Egoísmo que se estende também às relações com o
transcendente. O imediatismo, o relativismo e a vantagem própria se sobrepõe
muitas vezes à autenticidade da fé e do anúncio. Nossa educação e nosso modo de
interagir através dos modernos meios de comunicação contribuem para que se
acentue este egoísmo e distanciamento entre as pessoas. Também as comunidades
cristãs, como partícipes da sociedade em geral, apresentam de alguma forma as
mesmas características, inclusive em grupos de maior engajamento. Por isso,
este apelo para a Igreja de hoje: Cada um e a Igreja como um todo, devem sair
de si mesmo. De acordo com o Papa Francisco (EG n. 87), “sair de si mesmo para
se unir aos outros faz bem. Fechar-se em si mesmo é provar o veneno amargo da
com a imanência, e a humanidade perderá com cada opção egoísta que fizermos”. A
busca por alguma espiritualidade é muitas vezes fuga de compromisso cristão,
reduz-se ao conforto e consolo pessoal. O Papa Francisco afirma (EG n. 263): “Há
o risco de que alguns momentos de oração se tornem uma desculpa para evitar de
dedicar a vida à missão, porque a privatização do estilo de vida pode levar os
cristãos a refugiarem-se nalguma falsa espiritualidade”. O conforto de atividades intraeclesiais, onde
geralmente se encontra conforto e apoio imediato não pode esgotar nosso campo
de atuação. As exigências são tanto maiores quanto mais avançarmos para o mar
revolto dos desafios, com os quais nos deparamos quando deixamos o comodismo de
lado e ousamos dar mais para o Reino. Neste sentido, alerta o Papa Francisco (EG
n. 49):
"Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de
nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que
nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos,
enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar:
«Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mc 6, 37)".
O discípulo missionário precisa estar ciente de seu chamado para ajudar
a levar a Boa Nova, mas também dos limites que tem para anunciar aquele que é
maior que ele, aquele que é mistério. Só assim, ele permanece humilde e procura
crescer na sua própria fé para pode anunciar (EG n. 45):
"O compromisso evangelizador se move por entre as limitações
da linguagem e das circunstâncias. Procura comunicar cada vez melhor a verdade
do Evangelho num contexto determinado, sem renunciar à verdade, ao bem e à luz
que pode dar quando a perfeição não é possível. Um coração missionário está
consciente destas limitações, fazendo-se «fraco com os fracos (...) e tudo para
todos» (1 Cor 9, 22). Nunca se fecha,
nunca se refugia nas próprias seguranças, nunca opta pela rigidez
auto-defensiva".
O anúncio a partir da fé cristã
precisa trazer as características desta, ou seja, se realizar na humildade e na
abertura para o Espírito. Todos somos pecadores, frágeis, passíveis de incorrer
em erros. O nosso conhecimento no campo da fé pode carecer de aprofundamento, a
compreensão do conteúdo do Evangelho se dá de forma progressiva, portanto,
sempre há um novo estágio a alcançar. Isto tudo requer uma atitude de muita humildade
e ousadia no anúncio. O discípulo missionário, segundo o Papa Francisco (EG n. 45),
“sabe que ele mesmo deve crescer na compreensão do Evangelho e no discernimento
das sendas do Espírito, e assim não renuncia ao bem possível, ainda que corra o
risco de sujar-se com a lama da estrada”. O caminho do Evangelho é o caminho da
caridade, do amor ao próximo. Conforme o Papa Francisco (EG n. 9), “quem deseja viver
com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e
buscar o seu bem”.
Os novos areópagos da
evangelização.
O foco da Campanha da
Fraternidade 2015 (CF 2015) está na presença significativa da Igreja na
sociedade. O desafio é ser esta presença num país que é laico, sem mesmo estar muito claro, em vastos campos da política e
da sociedade em geral, o que isso efetivamente significa. A Igreja, que sempre participou de momentos importantes ou da vida
cotidiana dos cidadãos, não pode abdicar da missão que tem, entendendo-se
dentro de um complexo sistema sociopolítico plural, a serviço de todo o gênero humano. Os novos areópagos de que
a Igreja fala são as diferentes esferas onde a Igreja pode contribuir, como vem
fazendo desde o começo de sua história, porém, num modo compatível com as
demandas hoje.
Na contramão da mensagem do Evangelho, vive-se tempo conturbado onde o
ser humano está cada vez mais desprovido de direitos fundamentais e se
consolida sempre mais uma economia mundial pautada em ganhos rápidos e
exorbitantes. O resultado é uma consolidada “Cultura de Morte”. São inúmeras as
condições que assinalam uma ampla cultura de morte hoje reinante na sociedade. Condições geradas pelos sistemas econômicos
globalizados injustos, os quais intensificam cada vez mais o utilitarismo da
pessoa (exploração humana) para fins de lucros rápidos e fáceis e acentuam cada
vez mais as diferenças sociais, a violência ideológica e religiosa, a carência
de recursos naturais, tráfico, pobreza extrema, violência resultante da vida
sexual desordenada e doentia (estupros, pedofilia, aborto ...). As guerras em
diferentes regiões do mundo, que afetam a sociedade civil, deixando inúmeros
mortos ou limitadas. A violência no campo da migração forçada. A degradação do
meio ambiente é igualmente gerador de morte uma vez que há uma intensa
inter-relação do ser humano com o ambiente, especialmente na área da saúde. Em
todos os casos trata-se do desrespeito à dignidade humana.
São João Paulo II, em sua carta
encíclica Redemptoris Missio (RM, 1990), em vista da realidade acima apresenta,
elenca alguns importantes desafios dos novos areópagos da Evangelização, (RM n.
37):
"Paulo, depois de ter pregado em numerosos lugares, chega a
Atenas e vai ao areópago, onde anuncia o Evangelho, usando uma linguagem
adaptada e compreensível para aquele ambiente (Cf. At 17,
22-31). O areópago representava, então, o centro da cultura do douto povo
ateniense, e hoje pode ser tomado como símbolo dos novos ambientes onde o
Evangelho deve ser proclamado".
Ele elenca os novos areópagos,
que são os espaços de evangelização e missão hoje: O mundo das comunicações; O
empenho pela paz; O desenvolvimento e a libertação dos povos, sobretudo das
minorias; A promoção da mulher e da criança; A proteção da natureza; O vasto
mundo da cultura; A pesquisa científica.
Estas são as novas realidades da
humanidade que merecem toda a atenção da Igreja, pois segundo a Constituição
Apostólica Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, (GS n. 1),
"as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos
homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também
as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de
Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco
no seu coração".
Por isso, a necessidade de estar
sempre, como propõe o mesmo Concílio, atentos aos sinais dos tempos. Sinais que
revelam as realidades onde e como vivem as pessoas. Todo o gênero humano deve
ser acolhido e estar no coração da Igreja. No compendio da Doutrina Social da Igreja
(DSI), a Igreja expõe todas estas novas realidades, considerando as
interdependências das diferentes áreas e a resposta que a humanidade pode e deve
esperar. São áreas distintas, mas que dizem respeito ao eixo central da
Doutrina Social da Igreja (DSI n. 552): “A promoção da
dignidade de toda pessoa, o bem mais precioso
que o homem possui, é a tarefa essencial, antes, em certo sentido é «a tarefa
central e unificadora do serviço que a Igreja, e nela os fiéis
leigos, são chamados a prestar à família
dos homens»”. Na cultura do descartável (Cf. EG n. 53; CF
2015 n. 102ss), a dignidade do ser humano está continuamente ameaçada. Ganhos fáceis
e rápidos estão no centro e o ser humano deve prestar a estes ou então pode ser
lançado ao lixo. A própria Campanha da Fraternidade acaba sendo um sinal dos
novos tempos, que contribui para que se promova a consciência cidadã, o diálogo,
abertura às diferenças, entre outros.
Os discípulos missionários, as
comunidades cristãs, ultrapassam as suas próprias fronteiras e se tornam
efetivamente ‘católicos’, ou seja, universais. Cabe a cada uma identificar os
sinais dos tempos do seu ambiente mais próximo para o comprometimento com o
Reino de Deus (EG n. 20): “Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual
é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta
chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as
periferias que precisam da luz do Evangelho”.
O leque de espaços de evangelização não é só cada vez mais amplo, mas
se tornou muito mais complexo. Não se pode falar sobre todos os espaços de
evangelização, mas importa ressaltar alguns aspectos transversais a todas as
realidades. O modo da configuração
socioeconômica resulta dos paradigmas reinantes nos diversos setores que a
compõem. Estes se desenvolvem e disseminam a partir dos diversos saberes, de um
lado benéficos e construtivos, de outro, muitas vezes conflitantes com a
promoção e defesa da dignidade humana, portanto, também com os critérios do
Evangelho. O empenho da Igreja em prol da dignidade da pessoa humana se intensifica
e amplia cada vez mais. Para todas as áreas de presença e atividade humana, a
pessoa e sua dignidade deve estar no centro. A este respeito, o texto-base da CF
2015 (CF n. 111) diz: “A Igreja, partindo de Jesus Cristo, propõe-se a servir,
nesse contexto desafiador, com uma mensagem salvadora que cura feridas, ilumina
e descortina um horizonte para além dessas realidades”.
Para cuidar da vida em todas as suas dimensões, a Igreja precisa marcar
presença significativa em várias esferas da sociedade. O Card. Oscar Maradiaga
(palestra 2014), referindo-se à importância da missão da Igreja no mundo,
defende que “não devemos ser estrangeiros neste mundo”. Ele alertou para o
pouco conhecimento dos membros da Igreja em questões de grande relevância na
sociedade. A mesma preocupação os bispos da América Latina manifestaram na
abordagem sobre os leigos (DAp n. 283):
"É urgente uma formação específica para que possam ter
incidência significativa nos diferentes campos, sobretudo “no vasto mundo da
política, da realidade social e da economia, como também da cultura, das
ciências e das artes, da vida internacional, dos meios de comunicação e de
outras realidades abertas à evangelização".
A resposta da Igreja para as questões da vida é sintetizada na
expressão “Ecologia Humana”, a Cultura da Vida. Para a Igreja, o ser humano. São reflexões
atualizadas do Concílio Vaticano II uma vez que hoje as interpelações
ecológicas são mais contundentes e bastante confusas quando se trata da
centralidade da problemática (DAp n. 126).
“A melhor forma de
respeitar a natureza é promover uma ecologia humana aberta à transcendência
que, respeitando a pessoa e a família, os ambientes e as cidades, segue a
indicação paulina de recapitular as coisas em Cristo e de louvar com Ele ao Pai
(cf. 1 Cor 3,21-23)”. João Paulo segundo,
na carta encíclica Centesimus Annus (CA), 1991, conclama todos os segmentos da
sociedade para (CA n. 53) “salvaguardar as condições morais de uma
autêntica ‘ecologia humana’”. O
caráter sagrado e inviolável da vida humana faz do cuidado da vida, a defesa da dignidade humana o centro da missão da
Igreja. O Catecismo (CIC n. 588) diz; “A vida humana é sagrada porque desde sua
origem ela encerra a ação criadora de Deus e permanece para sempre numa relação
especial com o Criador, seu único fim”.
Os modernos areópagos (cf. CF 2015 n. 154ss),
suas características próprias bem como suas interdependências, se encontram magistralmente
expostos no Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 2004 (CDSI). Justiça Social, Economia e Ecologia – o tripé
da sustentabilidade – resume hoje o que de mais urgente e abrangente pode ser
feito pelo bem da humanidade. De alguma forma estas dimensões se entrecruzam e
tornam a contribuição da Igreja ainda mais desafiante. “A opção pelo ser humano
e preferencialmente pelos pobres” (CF 2015 n. 161ss) requer atenção e cuidado
também no âmbito da economia e ecologia.
Considerações finais
A CF 2015 oferece inúmeras
possibilidades de engajamento pelo bem da pessoa e seu ambiente. Importa que se
estabeleçam prioridades e se tenham objetivos bem claros o que se pretende nas
comunidades de fé, nas comunidades de comunidades.
A proposta da CNBB por uma ampla
reforma política pode e deve ser a contribuição conjunta da Igreja do Brasil. Esta pode ser uma importante marca da
contribuição que a Igreja deve e é capaz de oferecer a toda a sociedade. É hora
de despojar-se de interesses e confortos pessoais e olhar para os desafios históricos
e ao mesmo tempo aqueles bem próximos de cada discípulo missionário. Assim a
Igreja como um todo pode se torna solidária, servidora e missionária.
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